Por HugoFreitas
Historiador
e Sociólogo
Não dá
mais para esconder ou fazer vista grossa ao fato que está animando as
discussões sobre o cenário político maranhense, em pleno ano de pré-campanha
eleitoral: existe um "racha" dentro do grupo liderado pela família
Sarney.
O
ministro de Minas e Energia, Edson Lobão (PMDB), está mostrando claramente, a
cada dia, sua insatisfação em não ter sido "ungido" pelo grupo ao
qual ainda pertence como o nome para disputar o cargo de governador do Maranhão
nas eleições do ano que vem.
As garras
de Lobão estão afiadas e preparadas para causar profundas feridas no grupo
Sarney. Isto ficou claro nas matérias veiculadas pelo Sistema Difusora,
conglomerado de rádio, TV e site na internet, de propriedade de sua família,
onde foram expostas as "veias abertas" das obras de revitalização do
Hospital Pan Diamante, iniciadas em 2011 com prazo de 120 dias para serem
concluídas e que até agora não tem data de término, e da Via Expressa, um dos
principais chamarizes do governo Roseana, onde foram mostradas irregularidades
nas questões de sinalização de placas e faixas de trânsito.
A Via
Expressa, por sinal, deverá compor parte da argamassa que irá balizar o
discurso eleitoral do candidato escolhido pelo grupo Sarney, o agora secretário
estadual de Infra-estrutura, Luís Fernando.
A favor
de Fernando, de 57 anos de idade, consta sua experiência administrativa no
município de São José de Ribamar, do qual foi prefeito por dois mandatos
(2005/2008 e 2009/2012), tendo sido reeleito, em 2008, com assombrosos 98,68%
dos votos (quase uma unanimidade), o que o projetou no jogo político local como
uma figura a ser considerada pelos jogadores inscritos na disputa sucessória de
2014.
Já o peso
político de Lobão, de 77 anos, é mais consolidado e vem de longa data,
constando em seu currículo um mandato de deputado federal (1978/1982), ainda
nos tempos da extinta Arena, três de senador (1986/1990, 1994/2002 e 2002/2010)
e um quatriênio à frente do Poder Executivo Estadual, governando o Maranhão de
1991 a 1994, sempre com o apoio de seu padrinho politico, o senador José
Sarney.
Para
Lobão, seu histórico na política maranhense se constitui num capital político
que mereceria maior valor por parte dos membros de seu grupo, o que não está
acontecendo agora. Lobão quer, a qualquer custo, ser o candidato à sucessão de
Roseana Sarney no comando do Governo do Estado.
Por isso,
a "briga" interna do lobo contra os leões palacianos ganhou ares
públicos. Lobão desferiu seus "ataques" ao grupo Sarney precisamente
através de seu sistema de comunicação, a principal arma política utilizada por
aqueles que intentam governar uma população miserável e analfabeta apenas
através do discurso.
Nesse
aspecto, Lobão ainda consegue seguir os ensinamentos do “mestre Sarney”, que em
recente entrevista afirmou que “se não fosse político, não precisaria ser dono
de um sistema de comunicação”, no caso, a Mirante.
Os uivos
do velho lobo acenderam o estopim para que o estado de “guerra fria” fosse
declarado dentro do grupo Sarney. O escalado para dar a "rugida" dos
leões ao ministro foi o secretário estadual de Saúde, Ricardo Murad, que
utilizou as redes sociais para achincalhar os lobos que comandam o Sistema
Difusora, Edson Lobão e Edson Lobão Filho, este último senador e presidente do
grupo de comunicação.
Em sua
página no facebook, Ricardo Murad acusa a emissora de Lobão de estar “servindo
a interesses meramente politiqueiros”, tornando público “um monte de mentiras”,
e lamentando o fato das notícias “deturparem” a realidade da saúde em Coroatá. “Uma
pena uma emissora que tem como proprietários o ministro Edison Lobão e o
senador Edison Lobão Filho se prestar para um papel desses”, escreveu
Murad.
A reação
dos leões contra os lobos foi deflagrada a partir da denúncia exibida pela TV
Difusora de que um suposto número de 44 pacientes oriundos de Coroatá,
município gerido pela esposa de Ricardo, Teresa Murad, teriam sido transferidos
para o Socorrão I, em São Luís, durante o mês de fevereiro.
Para
endossar esse ebuliente caldo, corre nos bastidores da política maranhense a
existência de conversas sendo feitas nas “sombras” entre partidários ligados a
Lobão e a Flávio Dino numa tentativa de costura de uma possível aliança para o
pleito vindouro, o que seria cômico (para não dizer “trágico”), já que os
oradores da “mudança” se arvoram no discurso “anti-oligarquia” como principal
base argumentativa para tentar convencer o eleitorado local de que Dino merece
sentar na cadeira de governador. Para os mais desatentos, Lobão é o braço
direito da “oligarquia Sarney” no Maranhão.
Mas uma
questão fica em aberto nesse imbricado tabuleiro: se Lobão está insatisfeito
por ter sido supostamente preterido na escolha de Luís Fernando como candidato
à sucessão de Roseana no Governo do Estado, por que correr justamente para o
lado oposto, o da “oposição dinista”, se Flávio Dino não sinaliza, de jeito
nenhum, abrir mão de seu sonho pessoal, que é comandar o Maranhão?
Uma
possível resposta seria a que a imprensa política local está aventando: Lobão
está apenas fazendo “jogo de cena”, para chamar a atenção de seus padrinhos e
dizer que ele está muito vivo no páreo de 2014.
Nesse
caso, estaria Lobão “dinizando” apenas para fazer tremer o grupo Sarney, tal
como o próprio Ricardo Murad, nas eleições de 1994, quando ele também esperneou
que queria ser o candidato do grupo e teve de engolir a filha de José sentar na
tão sonhada e disputada cadeira de governador?
Por outro
lado, não estaria Flávio Dino cometendo um grave erro ao tentar costurar uma
aliança com Lobão? No afã de ditar as normas a partir do Palácio dos Leões,
tremulando o estandarte da "mudança", não seria um tiro no pé um
apoio vindo do velho lobo "oligarca-sarneysista"?
As
questões estão postas. O movimento das peças visando as eleições de 2014 já
começou, que o diga as viagens de Dino pelo interior do Maranhão, na tentativa
de restabelecer um velho jargão sempre recorrente em tempos de eleição: a união
da "oposição" maranhense, isto é, as famosas e surradas “oposições
coligadas”, ou melhor, “oposições colegadas”. Mas isso é assunto para um outro
artigo.
Por ora,
despeço-me com uma reflexão: em briga de lobos e leões pelo poder é melhor não
arriscar um vitorioso, pois na hora da refeição, ambos compartilham do mesmo
prato principal: o sofrido, enganado e não representado povo maranhense.
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